sábado, 27 de outubro de 2012

AS DATAS DE OUTUBRO E SANTOS DUMONT

 
 

OUTUBRO - "SEMANA DA ASA"  E DIA DO AVIADOR

 
 
 
Conhecem essa peça?
Já pensou pilotar um avião desconhecido, sem proteção, capacetes etc...
Como diz o escritor do Livro "Asas da Loucura

Sentei defronte ao miserável computador que teima em brigar comigo, para dar continuidade ao artigo sobre o   Modelodromo de São Paulo. A continuação do  tema me parece  interessante,   pois se conseguir a sua construção  foi uma boa luta,  faze-lo  funcionar bem , a meu ver, ainda é muito difícil. Oportunamente explicarei por que. Vou abusar da paciência dos que me honram com a leitura do Blog e aqui solicitar uma pausa na história do Modelodromo, pois  lembro que estamos em Outubro e é imediata a ligação deste mês com  "Semana da Asa" e "Dia do Aviador".  É  este assunto tão importante para nós, brasileiros, que vou comentar. Prometo que voltarei em breve  a falar do Modelodromo em seu 2º Capitulo.

SEMANA DA ASA 

Este  Blog foi criado para tratar especialmente de aeromodelismo. Ao mencionar nossos aviõezinhos  devemos lembrar que o  principal  mérito está em se dar conhecimento a todos de quão importante é o papel desse esporte-ciência  na  formação  da  vocação aeronáutica.
Em todo território nacional festeja-se a Semana da Asa com shows aéreos e exposições de aviões. Nessas ocasiões  os aeromodelistas são também convidados para participar, mostrar suas habilidades de voo e construção. Em capítulo anterior deste Blog foram comentadas as apresentações especiais da "Equipe Senta Pua", montadas exatamente para essa finalidade, as quais geralmente se tornavam mesmo a melhor parte dos espetáculos.

Neste ano também tivemos em São Paulo, no Campo de Marte, os costumeiros festejos aviatórios proporcionados pelo 4º Comando Aéreo. Uma festa da aviação para a cidade. Muito bonita.
Homenageou-se a Semana da Asa, o Dia do Aviador, etc.
Mas, vejam só, não vi o nome do "Aviador", aquele que motivou a criação desse dia especial. Não li o nome de Santos Dumont. Não ouvi falar em 14-Bis. Apenas um ou outro órgão de imprensa mencionou a figura do patrício. Por que a  desatenção?

Ah, sinto-me envelhecido, um saudosista. Aproveito para fazer minha crítica. Bem, afinal, se tenho o compromisso de escrever "estas mal traçadas linhas" (coisa antiga, hein?), posso espernear um pouco.

Vivo em São Paulo, aqui nasci e muito provavelmente aqui terminará meu tempo (para o andar de cima só vão os bons). Tenho meus direitos.

Dumont e seu Demoiselle defronte ao Palacio da Princeza Izabel
Pouso fácil. em seus jardins

Vamos relembrar os fatos que me levam a celebrar tanto o nosso "Aviador":
 Em Outubro de 1906,  a pouco mais de 100 anos, um brasileiro doidão convoca a imprensa francesa para, na Praça de Bagatelle-Paris, tentar fazer voar um aparelho mais pesado que o ar, sem ajuda de catapulta. Faz um voo de mais de 200 metros de distância. Um milagre para espanto do público. O único até então realizado.
Esse maluco chamava-se Santos Dumont e deve ser avaliado não somente pelas suas qualidades como projetista, engenheiro, construtor de máquinas, mas pela ousadia de voar sem paraquedas, sem capacete,  num aparelho de performance de voo desconhecida, pois até então voava-se apenas em balões.
Esse feito foi um "start" à aviação. Partindo dele  já chegamos a Marte.
Em 1909 esse mesmo maluco projeta e constrói outro aparelho, o Demoiselle, um ultra-leve que até os dias de hoje  voa magnificamente bem por vários países, inclusive no Brasil. Um avanço enorme.
O nome "Demoiselle" foi escolhido por Santos Dumont em homenagem à nossa Princesa Izabel, a quem ele visitava frequentemente em Paris, chegando na aeronave e pousando nos jardins do palácio.

Os modelos de Dumont são muito apreciados. Vários aeromodelistas construíram réplicas  em escala, inclusive eu, provando as qualidades de voo dessas máquinas fantásticas.
Sabendo disso,  nosso  ex-Ministro da Aeronáutica, Sócrates Monteiro, um dia me deu  o livro "Asas da Loucura", escrito pelo premiado jornalista americano Paul Hoffman, o qual narra a verdadeira história da vida do aviador brasileiro.  Recomendo a leitura.
Ao me presentear, o Ministro fez um pedido:  que eu entrasse em contato com o Ministério de Aeronáutica  para organizar um grande concurso nacional somente para aeromodelos 14-BIS,  incluído nos festejos do Centenário do 1º voo de Santos Dumont, os quais aconteceriam em Brasília, no mês de Outubro de 2006. Como conheceu  bem o aeromodelismo e seus adeptos durante sua  trajetória militar em Cumbica/SP como piloto de  helicóptero, Sócrates Monteiro achava que o evento seria bem interessante. Ele queria, também,  provar ao seu colega Ministro da Aeronáutica do  Canadá que Santos  Dumont foi o primeiro a voar um aparelho mais pesado que o ar.
Embora eu não fosse mais dirigente da Associação Brasileira de Aeromodelismo - ABA,  a ideia me agradou. Era um belo desafio. Aceitei de imediato.
 
Fui convocado a organizar o evento  com todo  apoio logístico na Esplanada dos Ministérios - Brasília,  em contatos constantes com  Aeronáutica e  ABA para que fosse  divulgado durante seis meses,  mas nem por isso deixei de ter um exaustivo trabalho  até mesmo quanto ao avião militar que transportaria inscritos.
 Muito bem, sabem quantos aeromodelistas se apresentaram para o concurso?  Quatro. Sim,  eu disse  QUATRO.  Somente. Três que saíram de São Paulo comigo e um de Brasília. E nenhum modelo voou.
 
Quem fez um  belo voo foi um Demoiselle do amigo "Misturinha". Em seguida, encerrando a jornada naquele bonito local de Brasília, assistimos ao belíssimo vôo de um  14 - BIS  tamanho real,   construído e voado   pelo goiano Galassa. Ele provou que o bicho voava e bem. Saiu nos jornais. Foi a salvação do dia. Juro, nunca mais quero organizar algo parecido. Que fiasco!

Meu Demoiselle

Minha bronca? Acho que poucos parecem dar a devida  importância a Santos Dumont. Os jovens não sabem a respeito, não há divulgação constante, nem eventos especiais para o fato.
Por outro lado, sinto que o aeromodelismo também começa a patinar. Há muita TV, muitos games e o maldito ou bendito computador. Essa é a concorrência.
 Clubes de aeromodelismo funcionando  pelo sacrifício de  seus dirigentes. Como esporte, poucas competições com participação apenas regular. Campeonatos Brasileiros?  Sul-americanos? Mundiais? Só poucos privilegiados podem participar com recursos próprios. Durma-se com um  barulho desse. Desisto.
 
Sabem  como Santos Dumont morreu? Enforcou-se na cidade de Guarujá/SP. Dizem que foi por ver seu invento mal utilizado, usado para a guerra. Penso que não somente por isso. Ele sofria de grave doença  e pior, a dor da solidão após ter conhecido tanta glória. Não conseguiu escapar da depressão.
 
Nos Outubros, vamos sempre nos lembrar de um dos maiores de todos os brasileiros. Neste ano, 2012,  foi realizado um  concurso no SBT com votação nacional  para saber quem foi o maior brasileiro de todos os tempos.  Para defender como um advogado o nome de Dumont, foi indicada a querida esportista e escritora Lauret Godoy, que o fez com seu costumeiro brilhantismo.
Após três  meses e  milhares de votações, para a decisão final ficaram Santos Dumont,  Chico Xavier e, por coincidência, a Princesa Izabel.
 Com maior apelo popular venceu o grande Chico. Merecido.
Para mim, Santos também  foi  vencedor, e como sempre dou minha opinião:
Se em sua época  existisse Prêmio Nobel, certamente teríamos aí o 1º vencedor brasileiro.
O chamamos  de  "Pai da Aviação". Leiam o livro que mencionei. Conta tudo e por um repórter estrangeiro sem paixões nacionalistas.

 Ah, eu não sou vendedor de livros, tá?

O 14 Bis e Minha Oficina

Aconselho aos aeromodelistas:  procurem em suas cidades autoridades civis ou militares para auxiliá-los na organização de clubes, concursos etc.  Lutem por nossas ideias,  vamos tentar transformar o aeromodelismo  no valor que ele tem para a juventude.  Como eu, construam réplicas do 14-BIS. Ele  não será um grande voador, mas é um exemplo da mecânica  aérea e pode ajudar a encontrar respostas para certas dificuldades na construção de  modelos.
Construam também o Demoiselle. É uma graça e voa muito bem.

Meus amigos, acho que valeu a pena eu pensar em  Santos  Dumont.  Concordam?
 
 ] 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

MODELÓDROMO - IBIRAPUERA - SÃO PAULO

CENTRO DE MODELISMO - MODELODROMO DE SP

1º CAPITULO

Certa vez  meu amigo Álvaro Caropreso, veterano aeromodelista e editor de revistas, me pediu que escrevesse a História do Modelodromo. É uma  matéria muito extensa, que foi publicada na integra em sua revista e posteriormente na Hobby News.  Como sempre me perguntam sobre o Modelodromo como nasceu etc...  vou aproveitar do Blog para mais sucintamente, descrever como tudo se iniciou.
Em 1966 eu fazia  parte da equipe brasileira que voltava ao Brasil em Congonhas, do Campeonato  Sul-americano disputado na Argentina. A equipe era completa e trazíamos  alguns troféus conquistados. Uniformizados, chamamos a atenção de um repórter que sempre existem nesses locais à procura de alguma notícia interessante. A primeira pergunta que fez foi curiosa: "o que são esses aviõezinhos?"
Santa ignorância, a culpa não é dele, mas sim nossa que nunca procuramos a imprensa para  dar noticias de nossas atividades. Outra pergunta: "Vocês ganharam muitas competições com esses troféus?". Aí acho que perdi um pouco o senso de humor. Desabafei: São poucas as provas que vencemos, somos muito fracos perto de nossos adversários. Infelizmente não  temos pistas apropriadas para treinamento, fazemos tudo improvisado em terrenos baldios. Insistiu o atrevido repórter:  "Alguma vez vocês pediram ajuda às autoridades civis ou principalmente da aeronáutica?" Não gostei.
Meio encabulado falei grosso:  você repórter e nós simples cidadãos, será que conseguimos falar com alguém importante sejam civis ou militares sem uma apresentação especial ou o que chamamos de "cartucho?".
 A conversa parou por ai.  Nos despedimos  e nos desculpamos pela grosseria. 
Meu amigo, no dia seguinte de manhã, abro o jornal que leio habitualmente e vejo em letras garrafais na seção de esportes: "EQUIPE BRASILEIRA DE AEROMODELISMO VOLTA DO CAMPEONATO SULAMERICANO NA ARGENTINA, LEVA UMA SURRA E CULPA AS AUTORIDADES PRINCIPALMENTE A PREFEITURA POR NUNCA TER SIDO ATENDIDA EM SEUS RECLAMOS".

Como poderia eu imaginar que o repórter talvez nesse dia não tenha tido noticia melhor a dar a seus leitores? Eu procurava  por uma pequena noticia sem muito realce. Por curiosidade, sabem quem era o Sr. Prefeito? Brigadeiro Faria Lima. Uma fera. Não deu outra. Estou no escritório, me chamam no telefone: era o secretário do Prefeito, informando que ele queria uma reunião urgente, e já marcando hora no dia seguinte em seu gabinete.
Na verdade, no passado, tivemos uma  pista asfaltada em local bonito, arborizado, na Av. IV Centenário no Ibirapuera. Tivemos bons campeonatos nesse local. Aí conheci o U-Control ou VCC. Era Presidente da entidade  Antônio Emilio Carlos Naldoni. Grande dirigente e ótimo amigo. Certa noite, eu disse "noite", um abilolado aeromodelista, tinha adquirido um modelo da moda,  movido a jato. Difícil de o motor pegar, mas quando pegava era um barulho só. Além do barulho o safado queria ver o brilho das fagulhas expelidas do jato quando em voo. Em pouco tempo veio ao seu encontro um cidadão andando bem devagar e educadamente falou: "Meu amigo, moro aqui ao lado, já é bem tarde, será que você não poderia praticar seu salutar esporte durante o dia? a resposta: "Vá para aquele lugar e não me encha o saco!"
 
Resultado - o cidadão era o secretario adjunto do  prefeito e sem mais no dia seguinte plantou um poste de iluminação no centro da pista. Transformou o local em "cachorródromo". Está lá até hoje. Acabou o VCC. Fim de papo.
Voltando a nossa história, no dia seguinte lá estava eu no horário previsto, sentado defronte ao Brigadeiro Faria Lima. Cara feia, foi logo dizendo: que negócio é esse de dizer ao repórter que não atendo os pedidos dos aeromodelistas? Alguma vez  vocês me procuraram? Meio assustado respondi: não sou politico e nem sei como abrir tantas portas para chegar ao Sr. Prefeito.

Mais relaxados, falamos de aeromodelismo, dificuldades em ter locais apropriados para a prática etc..
Demonstrando muito interesse em nos ajudar pois sempre julgou que o aeromodelismo era o embrião da vocação aeronáutica, sugeriu que eu procurasse um funcionário arquiteto da prefeitura levando material  para  identificar as modalidades e  áreas necessárias. Agradeci a audiência concedida, nos despedimos com um até breve e muito feliz fui procurar o departamento indicado. No local encontrei dois grandes amigos aeromodelistas,  Mario Monteiro e Gilberto Caldas. Aí só foi festa.

Como editor da Revista Sport Modelismo, recebia todos os meses em troca as SM revistas de todo o mundo.  Escolhi algumas que traziam pistas com medidas oficiais e me entusiasmei com a ideia de um  local com todos os tipos de modelismo. Sempre sonhei que se juntasse todas essas modalidades: Aero, Auto, Férreo, Nauti e Plastimodelismo, num só local seria uma quantidade bem expressiva de praticantes e de público interessado. Munido de material impresso levei a ideia ao Dr. Gilberto que abraçou com entusiasmo imediato em elaborar um anteprojeto.

Marcamos um dia para apresentar o projeto para o Sr. Prefeito. Como sempre muito  pontual nos recebeu, analisou superficialmente  e fez alguns comentários: "Porque três pintas de aero? Porque um tanque de água com 50 metros? E essa arquibancada?". Com essas observações logo percebemos que realmente estava  interessado no projeto. Esclarecemos: necessitamos de 3 pistas para poder realizar possíveis campeonatos mundiais quando a FAI exige as mesmas. O tanque para Nauti com 50 metros permite competições  com barcos com motores à explosão. Arquibancadas para o público e proteção contra o som emitido pelos motores,  e embaixo locais fechados para  práticas do Auto, Plasti e ferreomodelismo,  uma pequena casa de lanches, sanitários e uma sala para a Federação. Ansiosos esperamos uma resposta.
O Prefeito esclareceu: temos que diminuir o projeto pois os custos para construção serão elevados. Temos também uma encrenca com nosso vizinho que quer a área. Rapidamente trocamos algumas ideias e para não perder o embalo do entusiasmo do Sr. Prefeito, sugerimos construir apenas duas  pistas, um tanque  com 25 metros e arquibancada de igual tamanho. Sugestão aceita na hora. Saímos com a promessa que o projeto já modificado seria enviado para licitação. Exultantes, com rasgados agradecimentos ao Sr. Prefeito, agora era  só esperar as coisas acontecerem.
 
Planta Original do Modelodromo - 1967